Fé, Política e Internet

Alguém diria “nunca antes na historia desse país se falou tanto sobre o aborto”. A questão está em todos os meios de comunicação, principalmente nos mais modernos como os blogues, perfis no Orkut, vídeos no Youtube, em jornais online, sem falar dos meios de comunicação mais tradicionais como jornais e revistas.  Também, não era pra menos, ao que tudo indica, o segundo turno da corrida presidencial parece ter vindo em virtude do “voto religioso”.
Muitos religiosos, principalmente católicos e evangélicos, levados por uma avalanche de e-mails de origem duvidosa, que muitos acreditam terem surgido do submundo da campanha do PSDB, teriam identificado a candidata Dilma como abortista e seu vice, Michel Temer como satanista. Votaram em Marina, que já foi católica e hoje é protestante. O que levou a José Serra ao segundo turno.
Neste contexto onde temas de origem moral e ética, que implica em um conjunto de valores caros aos lideres religiosos de massa, as autoridades religiosas vêm a público se manifestar. A palavra dessas autoridades se dirige ao fiel que, na hora sagrada do voto, é pressionado por sua consciência a não cooperar com o agente do “mal”...
O pastor Silas Malafaia, postou no Youtube um vídeo no qual diz abertamente ao povo evangélico que não se deve votar na "irmã" Marina, candidata de sua Igreja. Um sacerdote católico, da Canção Nova, manifesta-se no seu sermão contra o PT, e em um vídeo no YouTube, contra o aborto, chega a denunciar Gabriel Chalita (PSB), líder católico, como "traidor", ao apoiar a candidatura de Dilma.
No entanto, se esses lideres religiosos e seus fieis quiserem ser coerentes para valer, deverão aprofundar sua busca de informações. Não basta ler e-mails de origem duvidosa ou revistas como a Veja. É preciso tentar compreender as nuanças do jogo político no Brasil e principalmente, saber identificar quem é quem nesse jogo de acusações.
Trata-se de averiguar, por exemplo, o grau de coerência católica de José Serra, que seria a "opção do bem". O candidato do PSDB, quando ministro de FHC, em 1998, assinou a Norma Técnica "Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes", autorizando os hospitais públicos a realizar abortos.
Hoje vejo que é urgente aprofundar a temática da política nos meios religiosos, basta de superficialidade que, não poucas vezes, leva ao fundamentalíssimo.
 Leandro V. Almeida

“Jeitinho brasileiro”, mobilidade diante das dificuldades, ou porta aberta para a corrupção?



Forma de relação social tipicamente brasileira, o famoso Jeitinho se caracteriza por ser um modo de agir que busca driblar as normas e convenções sociais, apelando para laços familiares e de amizade, recompensas, promessas, dinheiro, companheirismos políticos, chantagens emocionais, entre outros, para obter favores para si ou para outrem.
No livro "Dando um Jeito no Jeitinho", o prof. Lourenço Stelio Rega define jeitinho como uma saída para situações sem saída, além disso, indica que o jeitinho não é só negativo, ele também tem um lado positivo como a inventividade/criatividade, a função solidária e conciliadora, pois ameniza conflitos.
 Diversos personagens do imaginário popular brasileiro trazem esta característica, João Grilo, por exemplo, personagem de Ariano Suassuna em “O Auto da Compadecida”, carrega em si o jeitinho brasileiro.
Não obstante, tal jeitinho está longe ser entendido como virtude, pois torna as relações desiguais, o jeitinho se assemelha com corrupção e é transgressão, porque desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade, por exemplo, nos acessos aos serviços e bens públicos, quando uso de influências de amigos para conseguir ser atendido primeiro pelo medico, quando consigo ser beneficiado sem estar dentro dos critérios legais por esse ou aquele programa, quando uso de meios ilícitos para me sair melhor em uma prova tendo acesso aos gabaritos antes da prova, como na ultima prova do Enem, ou quando tenho oportunidade de mudar meu gabarito após a prova, etc.
Em sua obra "O Que Faz o Brasil, Brasil?", o antropólogo Roberto Damatta compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa admiração e espanto nos brasileiros, acostumados a violar e a ver violada as próprias leis, e isto é facilmente comprovado nos discurso de nosso conterrâneos que voltam dos EUA, no entanto, afirma Damatta, é “ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada. Pode-se creditar à pouca-vergonha do brasileiro”.
Em termos mais populares, diz-se que, lá, ou “pode”, ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples: a exceção a ser aberta em nome da cordialidade não constitui pretexto para que novas exceções sejam abertas, ou seja, o jeitinho é apenas para alguns, familiares, companheiros políticos, amigos..., como se vê, o Jeitinho é pernicioso e trata desigualmente os que deveriam ser tratados como iguais, colaborando para uma cultura de corrupção e falta de vergonha.
Leandro V. Almeida