“Jeitinho brasileiro”, mobilidade diante das dificuldades, ou porta aberta para a corrupção?



Forma de relação social tipicamente brasileira, o famoso Jeitinho se caracteriza por ser um modo de agir que busca driblar as normas e convenções sociais, apelando para laços familiares e de amizade, recompensas, promessas, dinheiro, companheirismos políticos, chantagens emocionais, entre outros, para obter favores para si ou para outrem.
No livro "Dando um Jeito no Jeitinho", o prof. Lourenço Stelio Rega define jeitinho como uma saída para situações sem saída, além disso, indica que o jeitinho não é só negativo, ele também tem um lado positivo como a inventividade/criatividade, a função solidária e conciliadora, pois ameniza conflitos.
 Diversos personagens do imaginário popular brasileiro trazem esta característica, João Grilo, por exemplo, personagem de Ariano Suassuna em “O Auto da Compadecida”, carrega em si o jeitinho brasileiro.
Não obstante, tal jeitinho está longe ser entendido como virtude, pois torna as relações desiguais, o jeitinho se assemelha com corrupção e é transgressão, porque desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade, por exemplo, nos acessos aos serviços e bens públicos, quando uso de influências de amigos para conseguir ser atendido primeiro pelo medico, quando consigo ser beneficiado sem estar dentro dos critérios legais por esse ou aquele programa, quando uso de meios ilícitos para me sair melhor em uma prova tendo acesso aos gabaritos antes da prova, como na ultima prova do Enem, ou quando tenho oportunidade de mudar meu gabarito após a prova, etc.
Em sua obra "O Que Faz o Brasil, Brasil?", o antropólogo Roberto Damatta compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa admiração e espanto nos brasileiros, acostumados a violar e a ver violada as próprias leis, e isto é facilmente comprovado nos discurso de nosso conterrâneos que voltam dos EUA, no entanto, afirma Damatta, é “ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada. Pode-se creditar à pouca-vergonha do brasileiro”.
Em termos mais populares, diz-se que, lá, ou “pode”, ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples: a exceção a ser aberta em nome da cordialidade não constitui pretexto para que novas exceções sejam abertas, ou seja, o jeitinho é apenas para alguns, familiares, companheiros políticos, amigos..., como se vê, o Jeitinho é pernicioso e trata desigualmente os que deveriam ser tratados como iguais, colaborando para uma cultura de corrupção e falta de vergonha.
Leandro V. Almeida

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